domingo, 13 de novembro de 2011

ARTE E EDUCAÇÃO POPULAR POTENCIALIZANDO OS PROCESSOS FORMATIVOS NO CAMPO DA SAÚDE.




As trilhas desenhadas pelos movimentos e práticas de educação popular em saúde, apontam para a importância de sedimentar uma reflexão – ação em educação popular por meio de um processo formador que possa superar o caráter  disciplinar e a dissociação dos dilemas que constituem a  complexidade da vida popular,ultrapassando a descontextualização dos conteúdos  e a distância  entre teoria e prática.
Assim as narrativas sobre a vida cotidiana dos movimentos e práticas traduzidas nas  linguagens da arte, ao expressarem as diversas dimensões dessa vida cotidiana, permitiram a  realização de uma suspensão crítica, capaz de historicizar e compor um desenho do percurso formador capaz de estimular  o apoio mútuo e solidário na rede.
A recuperação das falas de cada grupo/movimento/prática, abordando uma leitura crítica do vivido feita dessa forma coletiva, pareceram-nos imprescindíveis na ultrapassagem da fragmentação ao individualismo.
A busca de imagens de transformação(aquilo que os grupos consideram que necessita ser transformado e seus possíveis(potencialidades em curso e os embriões de futuro)  e de  elementos comuns nas diferentes experiências grupais expressas como situações limite ou  forma pulsantes de expressividade e projetos de futuro, nos levaram a  pensar circuitos de produção cultural onde se pudesse considerar, não apenas produtos(resultados concretos em termos de qualidade de vida, mas também produção de sujeitos. È que essas práticas de significação (escuta e fala coletivas) em algum momento do trabalho expressa-se como produção cultural.
Acreditamos não podermos perder de vista que essa percepção de significação dessa roda possa acompanhar o crescimento de formas solidárias de cooperação, como passos do momento mais crítico, analítico dessas realidades para um momento da solidariedade sob a forma de uma ação concreta a ser construída na rede.
Essas narrativas vêm ocupando também os espaços acadêmicos e interferindo no processo formativo dos estudantes da graduação dos cursos da área da saúde. Um exemplo foi a vivência de leitura dramática conduzida pelo grupo Semearte do Bom Jardim com alunos do curso de enfermagem da UECE, para discussão sobre o Sistema Único de Saúde:

Meus senhores e senhoras

Que compõem essa platéia

Vamos saber da história
Dessa grande epopéia
Que a nossa periferia
Vive no seu dia-a-dia

E o grupo Semearte
Encena com muita arte
O que se passa com esse povo tão sofrido
Não é história inventada
É realidade encenada
Desse povo excluído
Todos
Ai, ai, ai, tô doente tô quebrado e o posto não me atende
Ai, ai, ai, o tempo todo  esperando e o posto me enrolando
Hip hop
Aqui no bairro a saúde é uma piada
Tem que sair de madrugada pra poder ser atendido
Mas depois de ter sofrido noite inteira numa fila
Tem gente que até cochila e não é recebido
E enquanto isso,
Por aí se ouve falar
De um tal sistema único
Que está a se organizar
Esse sistema de saúde
Dizem que é universal
Atendendo a todo mundo
Do pequeno ao maioral
Dizem, porém, que ele garante a eqüidade,
Pois quanto à necessidade,
Nem todo mundo é igual.
Esse tal SUS envolve o posto e o hospital
Corpo, mente e a cultura das pessoas
Numa ação que é integral.

Vamos juntar todo mundo
Boi , galante , catirina
Os doutor e as rezadeira
Vamos mudar nossa sina
Pois isso tudo só se faz com muita luta
E pra entrar nessa disputa
Precisa organização
E foi  pra isso que inventaram os conselhos
Paritários com os governos
Onde tem voz o cidadão.

( Trecho da tese de Doutorado em Educação: Dialogismo e Arte na Gestão em Saúde  - Dra. Vera Dantas)

Nenhum comentário:

Postar um comentário